Projetos de Aprendizagem

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O trabalho com esta metodologia modifica a dinâmica orgânica da sala de aula, instalando processos democráticos de decisão quanto ao que estudar, como trabalhar e como se organizar em função dos PA. Nessa nova organicidade, professores e alunos são parceiros e o erro ou o não chegar aos resultados esperados tornam-se elementos de crescimento, pois servem como matéria de análise para que os grupos detectem onde poderiam ter feito diferente, o que obstaculizou o que pretendiam ter realizado e que alternativas poderão experimentar em novas investidas.

 

Esta é uma proposta bastante elaborada e complexa, portanto, aqui só faremos algumas breves pinceladas. O processo como um todo será desenvolvido em oficina no ano 2, desta formação. No entanto, é importante salientar que já há professores nas escolas públicas trabalhando com PAs, em suas salas de aula. Assim, se você for um deles e quiser retomar a experiência, agora com mais informações e recursos digitais, esta é uma excelente oportunidade.

 

Este tipo de trabalho pode ser desenvolvido tanto por alunos das séries iniciais, quanto das últimas séries do Ensino Básico e até no nível superior. A diferença entre os projetos desenvolvidos nestes diferentes níveis reside na extensão e profundidade do conhecimento prévio (já construído) dos autores do PA. Assim, podemos ter questões bem simples e muito interessantes, vindas dos pequenos, e questões bem mais complexas, vindas dos maiores.

No entanto, é preciso dizer que nossa experiência evidencia que os menores são mais receptivos a esse tipo de proposta, provavelmente, porque o tempo de escola deles é menor e a influência da formatação ainda não conseguiu emudecer suas curiosidades. Os pequenos fazem mais perguntas, com mais leveza e flexibilidade do que os maiores. Esses se deixam envolver pela timidez, pelo receio da crítica (“pagar mico”), pela ideia de que o professor deve ser o provedor das informações e pela aceitação da ideia de que a escola é um espaço descolado do mundo em que vive.
Frente a isso, a situação disparadora do PA passa a ter uma função vital, pois dela vai depender a diversidade e a criatividade no perguntar.

 

Como fazer, então, o disparo inicial dos PAs?

 

Para termos uma situação pedagógica desafiadora, capaz de servir de “caldo de cultura” para o lançamento de questões, propomos um sistema de dupla entrada: imergir na gama de recursos digitais disponibilizados, tendo como ponto central o laptop educacional com apoio das mais diferentes mídias, e emergir do mundo em que vivemos para poder olhá-lo sob novas perspectivas. Na sala de aula, isso significa ter uma conjunção favorável de fatores que envolveriam a escola como um todo: mudanças nas gestões de tempos e espaços escolares; parcerias com outros professores e com a comunidade; flexibilidade no sentido de ultrapassar as questões referentes a grades programáticas e disposição de enfrentar as dificuldades que advém da subversão das mesmas e, principalmente, abertura à partilha nos momentos de decisão que fluem entre os diferentes participantes.

Numa situação concreta, haveria aumento dos períodos de aula; flexibilidade na utilização dos diferentes espaços escolares ao mesmo tempo (pátio, quadra, sala de aula, biblioteca, laboratórios...); planejamento conjunto pelos professores da situação disparadora inicial, ou seja, a montagem de um conjunto de vivências, para que os alunos tenham chance de olhar o seu mundo de diferentes maneiras. Assim, por exemplo, professores parceiros de uma turma podem somar seus tempos na semana inicial, usando-os para que os alunos experienciem situações variadas tais como: navegação em sites com imagens, animações e simulações de fenômenos naturais; observação de globos terrestres, mapas no chão, fotos tiradas por satélites; vídeos sobre vida animal, vegetal, com diferentes povos e culturas; documentários sobre diferentes ecossistemas; análise de jornais do dia; vídeos interessantes do YouTube (selecionados pelos professores e pelos alunos); livros de diferentes campos do conhecimento e de literatura; jogos lógicos; navegação em blogs e wikis de alunos de idades semelhantes; participação em fóruns interessantes ou chat com outras escolas; desafios no pátio (“Quem chega primeiro?” Quem é o mais veloz? Por quê?), salas de desafios relacionados a campos diferenciados (como se pode medir uma piscina? Como podemos representar tal situação?); experiências em laboratório de ciências; entrevistas combinadas entre eles; saídas de campo para observar o entorno da escola, outras comunidades, visitas a planetários, museus e mais. Com isso, eles seriam envolvidos por um turbilhão de experiências, aparentemente desconectadas, mas com a clara intenção de eliciar suas curiosidades, para iniciar o trabalho com PA. Como a gama de situações é ampla, mais uma vez se imporia a flexibilidade: os alunos poderiam optar pelas situações nas quais gostariam de participar, por quanto tempo e em que trajetória. É evidente que as trocas entre eles, durante os trabalhos ou nos encontros, ao mudarem de espaços, facilitariam as escolhas e, naturalmente, a formação de grupinhos de alunos em função de relações interconectadas que iriam traçando. A aproximação se faria mais por interesses comuns e não tanto por afinidades afetivas.

Em síntese, teremos, ao mesmo tempo, vários grupos trabalhando sobre objetos de conhecimento diferenciados. Dai a importância de fazermos parcerias com outros professores da escola, para que possamos provocar e orientar com maior riqueza de perspectivas os diferentes grupos.

O trabalho de desenvolvimento do PA, atendidas as etapas já descritas de escolha das questões, certezas e dúvidas, demanda ainda que os alunos planejem como vão coletar os dados, que fontes de coleta vão utilizar, como vão se comunicar, como vão publicar o conhecimento que vão produzindo, que conjunto de páginas vão produzir.

Enfim, os alunos precisam compreender que o PA é um leque de possibilidades de novas aprendizagens e não pode ser reduzido a um questionário para responder!!! É um processo extenso, onde ao final, precisam alcançar as respostas para as dúvidas levantadas e confirmar ou reestruturar o conhecimento já existente, aumentando sua rede de significações.

 

Vamos analisar alguns exemplos?