Parte I
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Iniciar um trabalho em sala de aula com questões exploratórias pode trazer bons resultados, pois, além de nos ajudar a criar um clima investigativo, que envolve e motiva os alunos, nos ajuda a compreender as ideias que eles já têm sobre determinados fatos ou fenômenos.

Estas ideias nunca são construídas ao acaso. As crianças as constroem a partir de evidências e vivências, ou seja, a partir do que ouvem, veem e observam em suas experiências pessoais.

Para exemplificar como as questões exploratórias ajudam a trazer à luz os conhecimentos prévios dos alunos, descreveremos o que ocorreu com alunos de uma quarta série, com idades entre 9 e 10 anos, ao estudarem "calor".

 

A professora destas crianças, ao invés de iniciar sua aula definindo o que é calor, como usualmente fazia, decidiu perguntar a elas o que achavam ser o calor.


Os alunos trouxeram várias ideias: o calor vem do sol; vem dos nossos corpos; vem dos blusões de lã e todos concordavam. Um aluno lembrou que gorros e mantas também são muito quentes e assim começaram a aparecer as concepções ingênuas que as crianças tinham, naquele momento.


Estas concepções foram construídas ao longo de 9 ou 10 invernos, durante os quais essas crianças, provavelmente, ouviram os adultos, inúmeras vezes, pedindo que vestissem "roupas quentes". Assim, cada blusão de lã ou cachecol, usados para manterem-se aquecidas, auxiliou estas crianças a pensarem de determinado modo sobre o que é o calor e quando chegaram à escola já tinham algumas idéias intuitivamente construídas sobre isso.

Essas ideias são consideradas concepções ingênuas porque entram em choque com o conceito de calor, cientificamente elaborado.

Ao invés de contradizer essas ideias, a professora propôs que as crianças pensassem sobre como poderiam testá-las, para colocá-las à prova.

 

No primeiro dia, as crianças colocaram termômetros dentro de blusões de lã, gorros e mantas, mas, mesmo depois de 15 minutos embrulhados nestas peças, os termômetros não acusaram mudanças. Um dos alunos sugeriu, então, que isso poderia estar acontecendo em função do curto tempo de permanência deles dentro das peças e completou: "- Quando o médico mede nossa temperatura precisamos deixar o termômetro na boca por bastante tempo."

 

Os colegas, que também já haviam passado por esta situação (experiência pessoal), concordaram imediatamente e tiveram a ideia de deixar os termômetros bem enrolados dentro destas roupas durante toda a noite. Previram temperaturas altíssimas.